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#PraCegoVer: O mundo da audiodescrição

  • Foto do escritor: Cultura Fluída
    Cultura Fluída
  • 21 de nov. de 2019
  • 8 min de leitura

Atualizado: 21 de nov. de 2019

Hashtag difundida nas redes sociais é assunto em palestra de audiodescritora para explicar a descrição de imagens para cegos


(Palestra “Além do olhar, palavras criam imagens”. Foto: Rafael Reis)


No mundo de hoje cada ambiente que é pensado para o público é concorrido pela inclusão da maioria dos tipos de deficiências que podem ocorrer ao ser humano. O esforço para que haja algum tipo de acessibilidade aos deficientes visuais em museus e cinemas, por exemplo, foi tema de uma das palestra que ocorreu na 9ª Bienal do Livro de Alagoas. Intitulada de “Além do olhar, palavras criam imagens”, a palestra foi comandada pela pesquisadora de acessibilidade comunicacional Bárbara Lustosa, nesta quinta-feira (7), no bairro de Jaraguá.

Audiodescrição é uma descrição específica e detalhada do que acontece em vídeo para os deficientes visuais. Logo no início da palestra, Bárbara propôs um exercício de descrição de imagens a fim de que os participantes penetrassem nesse mundo, além de exibir outros materiais audiovisuais que continham esse recurso de inclusão. Neste processo de narração da imagem, os espectadores imaginavam o cenário e ao fim era mostrado a foto do lugar imaginado.

Segundo Bárbara, existem regras específicas e precisas na roteirização da audiodescrição de qualquer produto audiovisual. Entre elas está a descrição objetiva da ação e a não criação de julgamentos e contaminação da opinião do audiodescritor. Todo esse trabalho, segundo Bárbara, deve ser feito com cautela para seguir uma ordem mais lógica de acontecimentos, com isso facilitando a compreensão de pessoas com deficiência visual.

O Estatuto da Pessoa com Deficiência, garante a obrigatoriedade da acessibilidade nos serviços de radiodifusão de sons e imagens por meio da inclusão de audiodescrição, janela com intérprete de libras e subtitulação através de legendas ocultas. Porém, mesmo assim há pouca exibição dos filmes com esses recursos. “Desde de 2015 com a criação da Lei de Inclusão Brasileira, todo filme que sai com patrocínio público tem que ter acessibilidade, só que esses filmes viram DVD guardados na pinacoteca. Quase não tem exibição! O que é necessária é a difusão desses filmes”.


BÁRBARA LUSTOSA


(Bárbara Lustosa na palestra. Foto: Rafael Reis)


Alagoana, Bárbara Lustosa é técnica em Linguagens de Sinais no IFAL (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Alagoas). Também é diretora de Fiscalização no Sindicato dos Tradutores, Intérpretes e Guias Intérpretes de Libras (SINDTILS) do Estado de Alagoas.

Bárbara é formada em Letras pelo IFAL, formada em Administração de Empresas pela Faculdade Estácio de Alagoas, possui especialização em Libras e Ensino de Surdos e tradução visual pelo Instituto Guerreiros da Inclusão e Técnica em Arte Dramática, pela Escola Técnica de Artes da Universidade Federal de Alagoas (UFAL).

Dona de um blog e um canal no youtube, no qual produz os bastidores de sua vida de atriz, grava vlogs, além de outros vídeos autorais como tags e discussões envolvendo opiniões de seus inscritos, para Bárbara, ter sido convidada para dar uma palestra na Bienal foi sinônimo de nervosismo, mesmo acostumada a falar, por trabalhar em escolas, ser youtube e ter participados de vários trabalhos que envolve público, não impediu que a mesma ficasse nervosa e insegura diante da extensa e diversa programação proposta pela Bienal, mas isso não a impediu de preparar um material tanto para a palestra quanto para divulgação.


BIENAL


A 9ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas aconteceu entre os dias 1 e 10 de novembro no histórico bairro do Jaraguá, em Maceió. De acordo com a produtora cultural Carol Almeida, o bairro foi a primeira opção da organização devido ao seu tamanho e capacidade, sem contar a vontade de reanimar a movimentação no bairro. O evento alagoano também é a única Bienal no Brasil organizada por uma universidade federal.

Até o dia 6, quinta-feira, a expectativa de público de 300 mil pessoas caminhou a passos largos para se realizar. Com uma média de 25 a 30 mil pessoas por dia, o bairro reviveu seus tempos áureos, com ruas cheias e respirando atrações culturais. Além disso, ajudou a movimentar a economia com 71 estandes de vendas de livros e mais vários vendedores informais formando pequenas feiras . Ainda de acordo com a organização, foram recebidas mais de 400 propostas de espetáculos, apresentações e afins para o evento através de editais públicos.

Com uma boa relação com os poderes do Estado, que ajudaram durante a organização da Bienal, a expectativa é manter o evento no Jaraguá. O sucesso de público também pode ser visto com o grande número de escolas que visitaram o evento, com 90 instituições indo ao bairro somente no dia 5, terça-feira.

Utilizando prédios históricos da cidade como a Associação Comercial de Maceió, o IPHAN-AL (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), o Museu da Imagem e do Som de Alagoas e a Praça Dois Leões e tendo mais de 160 pessoas trabalhando na sua organização, a tendência é expandir nas próximas edições para poder acomodar melhor os milhares de visitantes diários.

Mas engana-se quem pensa que a próxima Bienal começará só em 2021. De acordo com Carol Almeida, logo ao final desta edição, a próxima já será iniciada com uma reunião pós-evento para poder melhorar qualquer deficiência para a próxima.

A AUDIODESCRIÇÃO PRESENTE: PALAVRAS FORMADORAS DE IMAGENS

Audiodescrição é a tradução intersemiótica que torna conteúdos imagéticos acessíveis através da descrição, ou seja, é um recurso que traduz imagem em palavras direcionado ao público com deficiência visual mas ficando disponível para outros públicos, como deficientes intelectuais e idosos. Normalmente utilizado em serviços que se envolve com a cultura, educação e entretenimento, possibilita que haja descrição de diversas maneiras para que permita um acesso mais amplo do público em questão.

Há pelo menos 6 diretrizes na audiodescrição, sendo uma a descrição do olhar, outra a objetividade dessa descrição. Em seguida a forma de expressão desta descrição utilizando palavras vívidas, tendo uma ordem lógica, não podendo conter interpretações pessoais ou julgamentos. A descrição do ambiente deve partir do geral para o específico. É preciso ter todo o cuidado na hora de descrever algo para alguém, principalmente se esse alguém for um deficiente visual. É necessário utilizar uma linguagem descritiva para se descrever o ambiente e pessoas.

A disponibilidade do recurso pode ser feita mixada ao áudio original em filmes, distribuída em fones receptores em teatros e acessada através de texto pelos softwares leitores de tela em livros digitais, disponibilizada em autoguias, entre outros. Nas redes sociais o uso das hashtags #pracegover ou #pratodosverem se tornou mais comum, para possibilitar a descrição de imagens e tornar a internet mais acessível,e não é diferente em outros meios como a televisão e o cinema. Desde 2014, a Agência Nacional do Cinema (Ancine) estabelece que todas produções audiovisuais financiadas com recursos públicos devem ter legendas descritivas, audiodescrição e libras (Língua Brasileira dos Sinais).

Ao ser entrevistada sobre audiodescrição, Bárbara Lustosa, que é atriz, intérprete de Libras, legendista e audiodescritora nos conta como foi entrar nesse mundo, entre outras questões relacionadas à acessibilidade, acompanhe:


ENTREVISTA


(Bárbara Lustosa. Foto: Desconhecido)


Jornalista - O que te levou a estudar sobre isso e a quanto tempo você estuda sobre esse assunto?

Bárbara - Eu já trabalho com acessibilidade à uns 5 anos como intérprete de libras, e participando dos eventos de acessibilidade você acaba tendo conexões com outras pessoas, com outras dificuldades, em um encontro que teve aqui em Maceió, creio que 2º encontro de Audiodescrição em 2015, uma amiga minha já atuava na área de acessibilidade mais geral, me convidou para esse evento, fiz meu primeiro curso de audiodescrição e fiquei encantadíssima. Sou uma pessoa distraída, a audiodescrição me ajudou a enxergar as coisas ao meu redor, as vezes saio na rua pensando em como poderia descrever aquele momento. Tinha também a emoção das pessoas cegas, conforme o curso andava, teve várias referências, vários materiais, fiquei “nossa, eu quero fazer isso” e comecei a estudar, como tem pouco material, e poucos cursos, um ou outro em São Paulo, não fui para São Paulo, mas teve esse curso, depois teve um curso com uma das pessoas que é referência nos Estados Unidos, professor Joel Snider, fiz os dois cursos e pratiquei, colei nos amigos meus que são consultores mais experientes e desenvolvi uma linda amizade e uma paixão incrível por isso.

J - Quais os principais desafios para aumentar a produção audiovisual acessível no Brasil?

B - Os principais desafios, eu acho que não é nem aumentar a produção, acho que é a difusão, por que desde 2015, desde a LBI, todo filme que sai com patrocínio público ou da Fundação do Audiovisual ou da Ancine, eles tem que ter acessibilidade, eles saem com acessibilidade, isso existe, só que esses filmes viram um DVD que fica guardado, quase não tem exibição, esse ano, depois de 16 de setembro foi que 35% das salas de cinema nacionais estão acessíveis, é uma coisa que veio de 2014 com a normativa da Ancine, que foi sendo adiado, até chegar agora e por em prática, que a dificuldade era ter um equipamento que reunisse os 3 recursos, são coisas diferentes, uma coisa é um áudio, outra coisa é a imagem que está no cinema, sem ferir, porque para mim que já trabalha com isso é incrível, ai estou olhando uma libras ou uma legenda, para mim é uma forma de aprendizado, que estou mais acostumada, mas para outras pessoas, é ferir, ferir o direito dessas pessoas de não ter aquilo na tela. Se pensarmos assim, tem minha prima que não gosta de legenda, filme nenhum legendado, então colocar isso na tela para todo mundo fere esse direito, está mais você se preocupa com o direito da maioria e fere o direito da minoria, é uma discussão que é bem isso, nos cinemas de artes, cinemas como Arte Pajuçara que são menores, que quase não tem público, tem dificuldade de se manter, não é possível comprar esse equipamento, ai continua como um lugar que as pessoas com deficiência ainda não acessam.

J - O audiovisual pode se beneficiar do modo que a literatura se expressa?

B - Sim, ela tem, principalmente nas partes de romance, tem muito mais isso, creio que suspense nem tanto, mas deve ter, descrever o cenário, como o livro não tem o recurso visual, mas ele tem uma coisa que é a 4º dimensão, que é nossa imaginação, é preciso ser descrito, essa linguagem descritiva da literatura, ela super contribui para enriquecer a audiodescrição.

J - Você já pensou em projetos ou participa, que possa incluir não só deficientes mas também pessoas que enxergam e tem interesse por Audiodescrição?

B - Eu não participei de nenhum projeto, mas nos meus estudos eu já li um artigo da professora Eliana Franco, que ela fez uma pesquisa de utilizar e exibir um filme com audiodescrição para um público que tinha deficiência intelectual, também tem outras pesquisas que tem a ver com pessoas idosas, os resultados foram que eles conseguiram desenvolver muito mais informação no final, eles conseguiram ter percepções melhores com o filme com audiodescrição. Então estamos nesse engajamento da audiodescrição para a pessoa cega, mas ele tem outros benefícios que ainda tem várias outras áreas abertas para estudos, atualmente um artigo diz que ele é eficaz para outras, deficiência intelectual, para idosos, e é isso, é um campo de estudo que tá em aberto.

J - Para você como uma pessoa não deficiente visual, como a audiodescrição mudou sua vida?

B - Nossa, eu consigo prestar atenção em coisas que antes passariam despercebidas, é muito importante aquela informação da cena e aí foi descrito, a pessoa “nossa, não sabia” “não tinha visto esse lenço sobre a cama”, para mim iria passar despercebido, mas a audiodescrição me ajuda a perceber os detalhes, tanto fazendo, como assistindo um filme com audiodescrição.

A acessibilidade é algo que vem crescendo na sociedade, o apoio às minorias têm sido questões de diversos debates e o empenho da sociedade de aprender meios comunicacionais acessíveis é maior, com o intuito de se comunicar melhor com as pessoas que possuem certa deficiência tem ajudado a essas pessoas a se sentirem mais incluídas na sociedade atual, diferente de épocas passadas que as mesmas eram praticamente invisíveis.



Texto por: Lucas Henrique Vieira, Rafael Reis, Rafaela Barbosa.


 
 
 

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