CINECLUBES: EDUCAÇÃO ATRAVÉS DO OLHAR
- Cultura Fluída
- 16 de fev. de 2020
- 4 min de leitura
Tradição do século XX persiste até os dias de hoje contribuindo para a reflexão cinematográfica em Maceió
Por: Lucas Henrique e Letícia Aguiar
Surgidos nos anos 20 na França, os cineclubes são espaços de reflexão sobre cinema, não sendo só o “ver por entreter”, mas também o “ver para aprender”, afinal após a exibição dos filmes ocorre o debate, considerado como uma espécie de “cereja do bolo” das sessões de cineclube. Especialmente no Brasil, o movimento cineclubista foi estratégico e responsável pela formação de grande parte dos cineastas brasileiros, entre eles se destacam Glauber Rocha e Cacá Diegues.
Os cineclubes mantêm forte tradição e continuam ativos como meio de transformação social. Várias dessas organizações têm suas sessões livres ao público, totalmente gratuitas, a fim de democratizar o acesso ao cinema e as discussões que são postas sob a roda de conversa.
Na capital alagoana, os cineclubes também se fazem presentes, levando aos cidadãos uma poderosa forma de refletir sobre cinema. O Mirante Cineclube é um desses espaços, ele surgiu há 3 anos e foi fruto do primeiro laboratório de crítica cinematográfica da Mostra Sururu. É um cineclube gratuito, com sessões mensais que têm início em março e se estendem até novembro.
Dentro desse projeto existe sempre o cuidado por parte da curadoria de levar filmes variados, nacionais, internacionais, dirigidos por mulheres ou aqueles de cunho mais popular, conhecidos por um maior número de pessoas. Além disso, o Mirante possui as sessões especiais, como a sessão queer, a sessão mulheres e a sessão cinema alagoano.
As exibições ocorrem no Cine Arte Pajuçara, aos sábados, entretanto o Mirante Cineclube foi contemplado recentemente, com um edital da Fundação Municipal de Ação Cultural (FMAC), para comprar seus próprios equipamentos e ter seu próprio espaço. Mas segundo Lucas Litrento, coordenador do projeto, eles pretendem continuar no Arte Pajuçara e procurar levar as exibições a outros lugares.“Por mais que o Mirante tenha uma perspectiva de luta e de mostrar a margem, nós ainda estamos num espaço central, a ideia é que a gente se espalhe”, falou.
O Mirante Cineclube também tem religiosamente, a exibição de produções alagoanas durante um mês, levando ao público filmes que muitas vezes ficam restritos apenas as mostras. De acordo com Lucas, as sessões com filmes locais são de extrema importância. “A exibição das produções locais, só potencializa essas produções, gera rotatividade e fazem os filmes serem conhecidos e discutidos, levando eles para além dos festivais alagoanos”, disse.

Em novembro do ano passado, o Mirante foi responsável por realizar a primeira Mostra Quilombo de Cinema Negro, exibindo curtas dirigidos por realizadores negros, de diversos estados. Dentre essas obras, estava Ilhas de Calor, do alagoano Ulisses Arthur, filme que foi participou, junto de outras produções, da Mostra de Cinema de Tiradentes (MG), marcando a presença inédita de Alagoas no evento.
CINECLUBE NA UNIVERSIDADE
Voltado para a comunidade universitária, o Cineclube Papa-Sururu é um projeto coordenado e idealizado pela professora de jornalismo, Raquel do Monte, dentro da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Ele tem o mesmo funcionamento do Mirante Cineclube, os filmes são exibidos e depois ocorre a discussão. As sessões acontecem dentro do bloco de Comunicação Social (Cos).
Na curadoria, segundo Raquel, existe sempre o cuidado de trazer filmes mais distantes, ou seja, produções que não são tão conhecidas. “São filmes que não passariam na sessão da tarde, existe essa preocupação na curadoria, a ideia é que a gente tenha repertório para linguagem cinematográfica”, falou.
A professora é cineclubista há 17 anos, quando entrou na faculdade ela compreendeu a importância do cineclube para formação de um jornalista, e assim, decidiu implantar esse projeto no Cos, possibilitando, principalmente aos estudantes de jornalismo, um repertório de conhecimento cinematográfico maior.

Sobre a importância da atividade cineclubista, a aluna de filosofia, Laureta dos Anjos, que também participa das sessões do Papa-Sururu, deixa claro o quanto essa atividade é fundamental, não só para os universitários, mas para sociedade. “Eu acho o cineclube essencial para formar o caráter de qualquer pessoa, porque as discussões que nós temos depois de assistir os filmes, com certeza, reconstroem a nossa subjetividade, modificando não só o pessoal da universidade, mas a sociedade ou pelo menos parte dela”, afirmou.
Além das produções menos conhecidas, o Papa-Sururu exibe, em sua maioria, documentários brasileiros, que falem dos problemas sociais e históricos do país. Ele conta ainda, com as obras audiovisuais locais, agindo como uma janela de exibição, afinal, os filmes alagoanos nem sempre circulam entre o grande público.
ALAGOAR
Os cineclubes são janelas para mostrar as mais diversas obras audiovisuais, e principalmente, fazer os produtos locais circularem. Assim como eles, existem outros espaços que propagam o cinema local, contribuindo na sua resistência e criando memória.
Dentre esses meios, está o Alagoar. Surgido do desejo de difundir a produção audiovisual alagoana, esse site é um espaço para propagação e preservação das ações e do conteúdo, a respeito do ramo audiovisual do Estado. Nele são disponibilizados editais de incentivo, mostras e festivais alagoanos, críticas de filmes brasileiros, entre outros.

Desde sua criação em 2015, o Alagoar vem sendo lugar de resistência, pois nem sempre os bons ventos sopraram no setor audiovisual de Alagoas. De acordo com sua criadora, Larissa Lisboa, o site é um meio de ampliar as discussões e incentivar o setor. “O papel do Alagoar é ser um convite para seguirmos falando e alimentando o audiovisual alagoano”, falou.
Não existe uma periodicidade para a publicação de conteúdos no site, sendo um meio totalmente aberto a colaborações, afinal, ele foi criado e é mantido por trabalho voluntário. Os filmes são catalogados através de uma ficha, disponível no próprio site, por tempo ilimitado. Para acessar o Alagoar clique no link abaixo.
http://alagoar.com.br/
Comments