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Bráulio Tavares fala sobre experiência como escritor

  • Foto do escritor: Cultura Fluída
    Cultura Fluída
  • 21 de nov. de 2019
  • 7 min de leitura

No mesmo ano que o primeiro filme de Blade Runner ocorre, autor paraibano fala sobre os desafios de escrever literatura fantástica no país.


Por Andressa Martha, Giselly Vitória e Laura Correia.

“É a literatura baseada na imaginação”, diz o escritor paraibano Bráulio Tavares (59) ao definir o que seria a literatura fantástica. Bem-humorado e atencioso, Bráulio foi um dos palestrantes da 9ª Bienal de Alagoas, realizada no início de novembro. Ele ministrou a palestra sobre origens e perspectivas para a literatura fantástica no Brasil. Citando exemplos do cotidiano, o escritor manteve a aproximação com o público a todo momento.

Autor Bráulio Tavares
Fonte: Revista Continente/Foto Divulgação

Concedendo — praticamente — uma aula de criação de histórias fantásticas, Bráulio explicou aos espectadores presentes no Espaço Sesc, localizado no auditório do Iphan que, para criar uma história fantástica, os autores utilizam metáforas e simbologias para contar a realidade de uma forma diferente: “Um vampiro serve como uma espécie de comparação com um parasita, uma pessoa que gruda na gente e suga nossa energia”, falou. A narrativa de fantasia vem com o rompimento do polo material, utilizando do extraordinário, dessa forma o autor fala que depende dele o público acreditar nesse universo.


Falou também sobre o preconceito de leitores brasileiros para com as narrativas fantásticas, argumentando que por não ser uma história real, não valeria a pena “perder seu respectivo tempo” em algo que não existe, e que todo livro fantástico são iguais. Braúlio comentou que “A literatura fantástica é uma tentativa de descrever o mundo, como se o mundo material proporcionasse asas a imaginação”. Deste modo, ele acrescenta que, o preconceito que leitores de biografias têm com a narrativa fantástica deveria ser repensado sem receio.


O público foi bastante participativo do início ao fim da palestra, sempre apresentando questionamentos e colaborações intelectuais, assim, transformando o ambiente em uma troca de opiniões e conhecimentos. A palestra contou com a participação de dois intérpretes de libras — que revezavam entre si a cada uma hora — para assim, proporcionar a inclusão de uma espectadora que possui deficiência auditiva. Outros eventos da Bienal também contaram com intérpretes, sendo uma das primeiras do estado a proporcionar essa acessibilidade.


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Fonte: Andressa Martha

Uma das dicas que o Bráulio Tavares indicou foi fantasiar sobre situações do cotidiano humano, como por exemplo o que você queria que acontecesse de especial no seu dia, a partir daí ele diz que muitas narrativas podem ser construídas. Como na obra O colecionador, de John Fowles, onde o um homem solitário acaba revelando-se um maníaco após ganhar na loteria e sequestrar uma moça desconhecida. A utilização do insólito, ou seja, aquilo que não se apresenta de maneira habitual seria um recurso para a criação da fantasia.


Os sonhos também são um recurso infinito de inspiração para as histórias, diz Bráulio, em que lei das físicas podem ser rompidas. Ele mesmo disse que já tirou inspirações dos seus sonhos. Tanto é que Franz Kafka tem um livro só sobre eles. O autor falou que é interessante pesquisar sobre a mente humana e a psicanálise coletiva. Para entrar no mundo do universo fantástico, tem que deixar de lado a realidade e o mundo como ele é, as leis da natureza são rompidas e seres que não pertencem a nossa realidade aparecem. Dessa forma, os autores podem pegar as inspirações do mundo real e desenvolvê-las na fantasia, qualquer um pode começar a escrever.


Durante a palestra, houve o desabafo de uma das pessoas do público, disse que utilizava da escrita durante as crises de ansiedade e pânicos e conseguia se acalmar. Emocionada, ela falou que no decorrer das crises, tenta conversar com ela mesma através da escrita, e assim, se manter tranquila. "Eu sempre ando com esse caderninho, nele, contém meus relatos sobre as crises de pânico que tenho. Durante esses períodos, procuro escrever que está tudo bem e que vai passar. E quando passa, escrevo que eu tinha razão em ficar calma", completou. Bráulio falava justamente sobre a escrita como uma forma de acalmar e analisar os pensamentos.


O interessante da palestra ter acontecido no mês de novembro de 2019, é que essa é a época em que a história Blade Runner se passa, uma das mais famosas narrativas fantásticas do mundo, do autor Philip K. Dick.


Bráulio Tavares é escritor, compositor, dramaturgo e tradutor, com mais de 15 livros publicados no Brasil. O autor também escreve regularmente em seu blog mundofantasmo.blogspot.br. O autor diz que o prazer de escrever é o fato de criar algo pessoal. “Eu vivo em torno da literatura, mas não das vendagens dos meus livros literários”, falou. Ele também escreve roteiro para televisão, teatro e cinema, matérias de jornais e dá aulas e oficinas.


Mercado Literário


O mercado literário brasileiro está em um momento de instabilidade que pode ser percebido pelo fechamento de diversas editoras no país. Diante desse fato surgem diversas questões sobre o hábito de leitura dos brasileiros e também sobre a preferência de conteúdo, em especial a dúvida sobre a escolha entre autores nacionais e internacionais.



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Feira de livros na Bienal / Fonte: Laura Correia

Por ser um debate amplo que precisa ser levado em conta vários fatores como a acessibilidade aos livros e também a mudança do físico para o digital, a crise do mercado literário precisa ser estudada com bastante cuidado. O que se pode ser discutido no momento atual é o consumo de livros nacionais por brasileiros, se ainda existe um preconceito contra os escritores do país ou se não importa a origem do livro. Em especial acerca do gênero literatura fantástica.


Olhando por uma perspectiva geral, as recentes pesquisas sobre os livros mais vendidos no Brasil mostram que na primeira semana de novembro entre os vinte primeiros, doze são escritos por brasileiros. Essa notícia publicada na Publish News mostra que os leitores consomem tanto literatura nacional quanto internacional, no entanto, nenhum dos doze best-sellers é do gênero fantástico.


O escritor, compositor e pesquisador da Literatura fantástica, Bráulio Tavares, fala um pouco sobre esse fenômeno. Segundo o autor um dos maiores problemas para esse gênero não é a falta de interesse no assunto, mas sim os preços exagerado dos livros, usando até o exemplo das suas próprias obras que algumas vezes ficam com um preço mais alto. Ele afirma: “A literatura fantástica teria muito mais leitores se ela saísse em coleções grandes, baratas, com boa divulgação. Porque o brasileiro gosta de ler, o brasileiro é curioso, gosta de coisas diferentes.”


Ainda sobre isso Bráulio fala que muitos leitores preferem os livros que vão gostar em vez de investir em uma leitura diferente. Ele explica que um dos poucos preconceitos que a literatura fantástica ainda têm é o de que nada daquilo é real e portanto não digno de tempo. No entanto, Bráulio assegura que mesmo nas histórias mais fantásticas ainda existem fatores reais, ainda mais quando se trata de algo situado no Brasil.


A autora independente Jéssica Sanz concorda com o autor quando fala: “A realidade é muito cruel, então as pessoas querem ver coisas fantásticas, coisas bonitas, coisas diferentes. Na literatura, a gente tem o fantástico separado em estranho e maravilhoso e os dois atraem o público por trazer coisas diferentes da nossa realidade”.


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Jéssica Sanz / Fonte: Laura Correia

Um grande fator que também determina o sucesso dos livros é a divulgação dos mesmos. Bráulio acredita que ainda falta muita divulgação no setor de livros fantásticos brasileiros e que em qualquer oportunidade é necessário aproveitar para divulgar mais ainda os trabalhos já que as pessoas podem se interessar sobre o assunto mais facilmente.


Jéssica Sanz também acredita que, com uma grande divulgação, a venda dos livros aumentariam. Autora da trilogia Maya Fujita, publicada em uma editora independente, Jéssica aproveitou a oportunidade de feira de livros para vender seu trabalho, uma trilogia de magia, fantasia e aventura nacional.


Sanz conta um pouco sobre essa divulgação através das feiras de livros: “A abordagem de estar oferecendo o livro direto com o público em feira de livro ajuda muito porque é a hora que a galera está comprando e quando ela se vê em frente ao autor se vê ainda mais tentada a comprar. O melhor marketing é o cara a cara”.


Uma grande oportunidade para esse marketing em Alagoas é quando acontece a Bienal Internacional do Livro. Jéssica estava presente na mais recente edição do evento e assim como outros autores divulgando suas obras.


A 9ª edição da Bienal Internacional do Livro de Alagoas em 2019 contou com a presença de mais de 300 mil pessoas. Esse ano com o diferencial de ser em um bairro da cidade de Maceió(Jaraguá), dividido em vários prédios históricos, contou com um público de mais de 300 mil pessoas por ser um espaço mais aberto.


Uma das organizadoras do evento, Carol Ribeiro, conta que em média recebiam cerca de 25 a 30 mil pessoas por dia. Dentro desse público também estão incluídas crianças em excursões de escolas. Esses números dizem bastante quanto ao alcance que os livros podem ter e ainda quanto ao público-alvo, expandindo cada vez mais para os autores que utilizaram do evento para vender livros. O gênero literário de fantasia com a vantagem de ser algo que pode ser consumido por todas as idades.


Ainda de acordo com a organização da Bienal Internacional de Alagoas, um evento desse porte ajuda bastante e tem grande impacto na economia da cidade, contribuindo também para a cultura local já que o evento contou com mais de 100 autores alagoanos.

Ampliando um pouco de escritores alagoanos para escritores brasileiros a autora Jéssica acredita que se existe alguma diferença entre a literatura fantástica nacional e

internacional é a dimensão da popularidade. Ela afirma que a desigualdade acontece porque a literatura fantástica internacional já chega no Brasil filtrada, livros com vendas garantidas, com muito sucesso e já com todo o marketing e os livros nacionais de literatura fantástica não tem esse mesmo impulso.


A Bienal de Alagoas aconteceu entre os dias 1º a 10 de novembro e contou com um público com mais de 300 mil pessoas no histórico bairro do Jaraguá, contando com atrações para todos os públicos.



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